O luto não avisa quando vem.
Ele simplesmente chega e se instala, como um vento frio que entra por uma janela aberta sem que percebamos. E, ao contrário do que muitos dizem, ele não vai embora. Com o tempo, ele pode mudar de forma, se transformar em algo menos sufocante, mas nunca desaparece por completo.
Porque o luto não é apenas a dor da perda, mas o amor que continua existindo, mesmo quando a presença física já não está mais ali.
“A morte não nos rouba os seres amados. Pelo contrário, os guarda e nos imortaliza na memória. A vida sim é que os rouba muitas vezes e definitivamente.”
- Jean-Paul Sartre
Nos primeiros dias, o luto é um abismo.
Ele paralisa, nos deixa sem ar, nos faz questionar se é possível seguir em frente. O tempo parece desacelerar, e cada detalhe do cotidiano se torna um lembrete doloroso da ausência. O café que antes era compartilhado agora é solitário. O perfume no travesseiro vai desaparecendo. O número salvo no celular continua ali, mas nunca mais será chamado.
E então, com o passar do tempo, a dor muda. Ela se acomoda, se mistura ao que somos, mas não some.
Às vezes, ela se disfarça de saudade leve, daquelas que nos fazem sorrir ao lembrar de momentos felizes. Outras vezes, vem como uma onda inesperada, levando tudo embora por alguns instantes. E, em alguns momentos, ela se torna apenas um silêncio que nos acompanha.
“Quando estiverdes tristes, olhai novamente para vosso coração, e vereis que na verdade estais chorando por aquilo que foi vosso deleite.”
-Kahlil Gibran, O Profeta (1923)
O luto é justamente isso:
o reflexo do amor que sentimos. Se dói, é porque foi verdadeiro. Se machuca, é porque existiu um vínculo que nenhuma despedida pode apagar.
Por isso, não há uma “cura” para o luto.
Ele não é algo a ser superado, mas sim compreendido e acolhido. Ele se torna parte da gente, moldando nossas percepções, nossa forma de amar, nossa visão da vida. Aprendemos a andar com ele, a encontrar beleza mesmo na ausência, a transformar a dor em memória, em legado, em aprendizado.
E seguimos em frente, não porque esquecemos, mas porque aprendemos a carregar a falta com leveza.
Porque, no fim, o luto nunca vai embora — ele apenas aprende a caminhar ao nosso lado.